A indústria de pescado é responsável por toneladas de resíduos descartados, principalmente escamas de peixe. Com upcycling de escamas de peixe, isto se transformaria em alternativa ao plástico, decoração e até purificador de água.
Em 2023, a produção mundial de pesca e aquicultura alcançou 186 milhões de toneladas, segundo dados da Statista. No entanto, 50 a 70% dessa produção é considerada resíduo e descartada no mar ou em aterros sanitários. São cerca de 7,2 a 12 milhões de toneladas de resíduos de peixe anuais.
A primeira vez que falamos de bioplástico feito a partir de resíduos da indústria de pescado foi em 2015 aqui, de lá para cá surgiram muitos novos bioplásticos, mas as escamas de peixe continuam a inspirar soluções de upcycling.
Escola brasileira desenvolve bioplástico a partir do upcycling de escamas de peixe
O descarte de escamas de peixe é uma das principais problemáticas na questão de poluição ambiental, mas alunos do ensino médio estadual de Manacapuru (AM) desenvolveram embalagens biodegradáveis a partir desse resíduo.
Para criar as embalagens sustentáveis, os alunos realizaram uma revisão bibliográfica de artigos científicos e manuais técnicos. Após identificar as possibilidades, eles coletaram escamas nas feiras populares da cidade e os processaram para a extrair hidroxiapatita e fibras algodonosas.
Em seis meses, os estudantes produziram protótipos de biocopos e bioembalagens em laboratório. Os resultados foram excelentes, abrindo novas perspectivas econômicas e sociais para a Amazônia, podendo se tornar uma nova fonte de renda sustentável às famílias ribeirinhas.
Bioplástico de pele, escamas e algas
A estudante de design de produtos da Universidade de Sussex, Lucy Hughes, também desenvolveu uma alternativa ao plástico composto de pescado. Apelidado de Marinatex, o bioplástico é feito de pele de peixe, escamas de peixe e algas vermelhas.
O material é biodegradável e compostável, e se degrada no solo em menos de um mês sem liberar toxinas, além de ser mais resistente que as sacolas plásticas comuns.
Lucy teve a ideia de utilizar resíduos da indústria pesqueira após visitar uma empresa de pesca sustentável na Inglaterra. Combinando esses resíduos orgânicos com algas vermelhas, ela criou um material mais barato e de degradação mais rápida que outros bioplásticos.
O desafio de encontrar um material que tornasse a fórmula consistente, pois as folhas feitas sem os resíduos de peixe voltavam à forma de alga enrugada. Após experimentar com conchas de mexilhão e esqueletos de crustáceos, ela se fixou nos resíduos de peixe, resultando em uma solução marinha completa.
Mirou no bioplástico e acertou no tratamento de água
Jacqueline Prawira também começou um projeto para criar uma alternativa biológica ao plástico usando resíduos de escamas de peixe ainda na na sétima série. Porém, antes de se tornar uma aluna do último ano do ensino médio, ela direcionou seu trabalho para resolver outro problema: a remoção de metais pesados de águas residuais usando o mesmo material.
Ela descobriu que o colágeno e os sais de cálcio presentes nas escamas têm propriedades para capturar poluentes metálicos. Atualmente, as estações de tratamento de águas residuais nem sempre conseguem remover metais pesados antes de liberar água nos rios, mesmo que a contaminação seja tóxica para o consumo humano.
Sua pesquisa mostrou que sua solução à base de escamas de peixe pode absorver até 82% dos metais pesados da água, aumentando para 91% quando combinada com eletrólise. Com um custo de apenas 23 centavos por quilograma, seu produto pode limpar 1.000 litros de água contaminada com metais pesados.
Jacqueline foi uma das 100 vencedoras do programa Rise, que apoia jovens estudantes em suas carreiras e além. Ela agora pode buscar financiamento para continuar sua pesquisa e implementar sua solução em estações de tratamento de águas residuais ou residências.
Escamas de peixe podem controlar poluição das águas
Físicos da Universidade Nacional de Singapura (NUS) também desenvolveram um método para valorizar escamas de peixe e limpar a água.
Eles transformaram as escamas em um bioadsorvente eficaz para remover o poluente Rodamina B da água, um corante rosa usado em têxteis e outros produtos, associado a riscos de saúde e danos ambientais.
Além disso, as escamas tratadas com calor emitem um brilho ciano vibrante sob luz UV, ao contrário da fluorescência azul fraca das escamas não tratadas. Isso permite o uso das escamas para transmitir textos e imagens microscópicas e macroscópicas.
Os pesquisadores da NUS desenvolveram um método simples de aquecimento que altera a estrutura do colágeno nas escamas, criando poros que melhoram as propriedades fluorescentes e a capacidade de adsorção de poluentes. Em testes com Rodamina B, as escamas tratadas removeram 91% do poluente em 10 minutos e podem ser reutilizadas, tornando o processo circular.
As propriedades fluorescentes das escamas tratadas também podem ser usadas para esteganografia, revelando mensagens ocultas sob luz UV. Escamas que adsorveram Rodamina B brilham em laranja sob luz verde, possibilitando a criação de padrões ocultos.
A equipe planeja desenvolver kits de teste acessíveis para detectar Rodamina B, ajudando comunidades e cientistas a minimizar riscos de exposição ao poluente.
Referências: Nusnews, Abre.org, Globalspec, Springwise, Fast Company
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