Se tem algo que não pode faltar na maioria dos pratos ao redor do mundo é carne. Vivemos em um mundo de carnívoros, fato. Muitos até pensam em diminuir o consumo, mas de onde obter a proteína? A resposta pode estar na proteína de folhas.
De antemão, pode parecer uma utopia propor aos brasileiros, povo que está em 3º no ranking de países que mais consome carne, fazer essa troca: um pedaço de bife por algumas folhas verdes.
Mas para aqueles que estão comprometidos a diminuir o consumo de proteína animal, essa pode ser uma ótima opção.
E tem proteína de folhas?
Muitos pensam que “folhas nem sequer possuem calorias significativas, que dirá proteína”. Como isso é possível?
Saiba que folhas verdes de muitas plantas são uma fonte abundante, acessível e sustentável de proteína adequadas para o consumo humano.
Pesquisas mostram que as folhas verdes, quando processadas, ainda conseguem manter 5% da sua proteína. E, em algumas folhas consumidas de forma in natura, o teor proteico é comparável ao do leite. Essa proteína das folhas é chamada de rubisco.
E, por consequência, o rubisco é a proteína mais abundante do planeta.
Rubisco? Nunca nem vi
Antes de mais nada, vamos à uma breve aula de ciência:
Rubisco é, simplesmente, uma proteína vegetal armazenada em todas as folhas verdes. Nesse sentido, é ela que é responsável pelo processo de fotossíntese.
A coisa boa é que o rubisco pode ser extraído de praticamente todas as folhas verdes, mas as mais usadas são as folhas da lentilha e da alfafa.
A proteína da folha da lentilha, por exemplo, contém o mais alto nível de aminoácidos essenciais e BCAA´s de todas as espécies vegetais. Seu perfil proteico é comparável ao do soro do leite e dos ovos.
Em números:
A LeaftFoods é uma empresa da Nova Zelândia que apostou na extração do rubisco das folhas para levar uma alternativa de proteína para os consumidores.
E deu certo. Não só em termos de lucros, mas também de sustentabilidade.
O sistema da Leaft usa a alfafa (que é fixadora de nitrogênio) para extrair o rubisco das folhas. E a adoção desse sistema em apenas 20% das terras agrícolas já mostra resultados: reduz a emissão de gases, beneficia a saúde do solo, melhora a produtividade das culturas e cria autossuficiência alimentar para os pecuaristas.
Proteína de folhas upcycled
A Leaf Protein Co. é uma companhia dos EUA que tem um só objetivo em mente: aproveitar a fonte de proteínas mais abundante e sustentável da Terra: as folhas.
Utilizando uma tecnologia de extração sustentável, ela é capaz de produzir proteínas vegetais nutritivas e ecológicas tanto para o meio ambiente como para os consumidores.
Um diferencial da empresa é que ela trabalha tanto com as folhas da estação como também com as folhas que são consideradas resíduos (olha o upcycling entrando em ação!).
Nada é desperdiçado, se no processo de extração do rubisco houver sobras, elas são utilizadas para fabricar outros produtos como ração animal e embalagens.
Iniciativas como essa também são benéficas para quem inicia tudo: os agricultores. Eles acabam sendo fornecidos com culturas alternativas sustentáveis à medida que nossas condições climáticas se tornam cada vez mais imprevisíveis.
Folhas que podem afastar a carne do seu prato
Como já falamos no início, praticamente toda planta contém o rubisco, ou seja, a proteína vegetal. Inclusive as plantas aquáticas.
E a empresa Plantible Foods, da Califórnia, utiliza as folhas da lemna, um exemplo de planta aquática, para extrair a proteína que será usada como ingrediente para criar diversos produtos (já falamos sobre lemna e outras 6 proteínas inusitadas aqui)
Mas qual é o gosto disso?
Bom, se você misturar o rubisco com água não vai sentir gosto nenhum. E é esse o ponto. O objetivo é usar o rubisco como ingrediente industrial para produzir os mais diversos alimentos, então o sabor neutro é uma vantagem.
Por enquanto, o carro-chefe da Plantible é o ovo. Sim, um substituto para os ovos feitos com a proteína das folhas. Inclusive, uma das padarias mais tradicionais de Nova Iorque, a Sweet Maresa´s já comprou a ideia e passou a fabricar seus macarons com o rubisco. A ideia é que, no futuro, a padaria possa produzir outros produtos assados com o ingrediente, como bolos e biscoitos.
Mais perto do que você imagina
Não são só os gringos que ficam com as novidades não. Da mesma forma, aqui no Brasil, existe uma planta bem popular e riquíssima em proteína. Você provavelmente já ouviu falar nela: a ora pró-nobis.
Aliás, a ora pró-nobis é tão cheia de proteína que ela é chamada por alguns de “carne verde”.
Inclusive estudos mostram que ela é mais proteica do que a carne. Sim, é real. Então se você reluta em deixar a carne de lado por conta da proteína, aqui está a ora pró-nobis.
A Ocean Drive, empresa especializada em nutrição, mostrou que essa planta é composta de 25% de proteína. Detalhe, a carne tem em sua composição 20%.
E se engana quem pensa que ela só serve para fazer chá.
Produtos com ora pró-nóbis
A ora pró-nobis vem sendo usada em todo o Brasil para produção de farinhas, pães, bolos, sobremesas, geleias, sorvetes, bebidas, etc.
Um sorvete feito com 30% de folhas de ora pro-nóbis crua, leite, ovos, creme e açúcar apresentou uma aceitabilidade de 74% entre quem provou.
Além disso, enriquecer os produtos com essa folha os deixa mais rico em proteínas. O que pode ser uma ótima opção para quem procura ganhar massa muscular, por exemplo. Só para você ter uma ideia, um hamburguer feito com adição da folha de ora-pro-nóbis, teve teor de proteína superior a 34% quando comparado aos hamburgueres convencionais.
Por fim, a ora pró-nobis oferece muitos mais nutrientes do que só a proteína. As folhas dessa planta também são ricas em vitamina A, C e as do complexo B, essenciais para fortalecer o sistema imunológico.
Não suficiente, também é rica em fibras, ferro e cálcio.
Ou seja, vale dar uma chance, não vale?
Muito chão pela frente
Em países como o Brasil e a Argentina, só para ilustrar, o consumo de carne é cultural. O churrasco de domingo é quase sagrado.
E, apesar da situação, não podemos fechar os olhos para isso. Em outras palavras, vai demorar muito tempo até que a gente possa enxergar alternar o consumo de carne com outras fontes de proteína como as folhas, por exemplo.
Verdade seja dita, aconselhar as pessoa sa comer menos carne não é suficiente
Aliás, aconselhar as pessoas a comer menos provavelmente não fará muito. À medida que a renda aumenta, o consumo de carne segue praticamente o mesmo ritmo. Isso tem um custo alto para os ecossistemas e o clima. A produção de carne é o motor por trás de 57% de todas as emissões de gases da produção de alimentos.
O desafio, então, não é persuadir as pessoas a comerem mais vegetais. É como fazer com que as proteínas vegetais, um dia, tenham sabor melhor do que suas contrapartes animais.
Em resumo, as folhas verdes apresentam uma fonte abundante e versátil de proteínas. No entanto, o desenvolvimento de tecnologias de extração acessíveis, bem como valor nutricional e boa oferta de preços, é essencial para torná-lo uma fonte alternativa de proteína comercializável.
Apesar dos variados perfis de nutrientes e métodos de processamento de diferentes folhas verdes representarem um desafio para atingir esse objetivo, também apresentam oportunidades para desenvolver fontes nutricionais alternativas e alcançar públicos de diferentes nichos de mercado
Por fim, ao passo que os avanços nas tecnologias de extração e processamento continuam, a biomassa de folhas verdes pode se tornar uma fonte significativa e sustentável de proteína num futuro não tão distante.
Afinal, já tem pessoas e países dando seus passos nessa direção.
Fontes: The Washington Post, Rubisco Foods, Estado de Minas, BBC, Agron Food Academy, A Lavoura, Food Navigator, News Medical
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