Para o dicionário invasor é aquele que invade e ocupa um território, já para a natureza os invasores são espécies exóticas, ou seja, que não pertencem àquele habitat e que se proliferam de maneira descontrolada, ameaçando o equilíbrio de um ecossistema.
Mas por que só as espécies invasoras se proliferam de maneira desenfreada?
O motivo é simples: Como elas estão invadindo um espaço que não é delas então, geralmente, não possuem predadores. Assim, a falta de inimigos naturais faz com que elas tenham toda liberdade para se reproduzir, o que causa o desequilíbrio do ambiente.
Exemplos de espécies invasoras./ Fonte: Ministério do Meio Ambiente (Ascom/MMA)
Mas, há uma solução para esse problema: Nós comemos os invasores e restauramos o equilíbrio na natureza. Fácil, não é?
Por que o invasor é um problema?
Antes de mais nada, imagine que um estranho invade sua casa e passa a morar nela por tempo indeterminado.
E, por essa razão, você terá que prover mais comida, a conta de água e energia irão aumentar. Além disso, seu invasor rouba toda sua privacidade.
Na natureza é parecido. As espécies invasoras podem causar todos os tipos de problemas, sendo, para muitos pesquisadores, uma ameaça até maior do que as mudanças climáticas para a biodiversidade.
O esquilo cinza é uma espécie invasora que já possui população de cerca de 2,7 milhões no Reino Unido/ Image: GettyImages
Os invasores podem comer ou parasitar espécies nativas, podem competir por alimentos, luz e parceiros reprodutivos. Às vezes trazem novas doenças com eles. E, se não forem controladas, dominam os habitats e sufocam a vida selvagem nativa.
As espécies invasoras são verdadeiros agentes do caos, e levam desordem para um sistema que antes era perfeitamente equilibrado. Por fim, elas também podem causar um enorme impacto econômico porque invadem não só a natureza selvagem, mas também plantações e lavouras.
Como espécies invasoras invadem uma área?
A invasão pode acontecer de forma natural, mas, na maior parte dos casos, a culpa é nossa. Sim, nós humanos mais uma vez criamos nossos problemas.
À medida que o homem se espalha pelo planeta, mais espécies são levadas de um lugar para o outro, seja de forma acidental ou proposital. A vespa asiática, por exemplo, é uma espécie originária da China e considerada como “vespa assassina” pelo seu tamanho enorme e seu veneno que, em múltiplas picadas, pode ser letal.
Vespa asiática fêmea./ Image: Philippe Garcelon via Flickr
E, de repente, essa vespa da China estava no Reino Unido, desequilibrando todo o ecossistema de lá. Como isso é possível?
Simples, os ovos da vespa vieram em paletes de madeira que transportavam frutas da China para a Europa.
E começa a comilança
Mas fique tranquilo, podemos ajudar a manter o equilíbrio da natureza fazendo algo super prazeroso e necessário para nossa sobrevivência: comer.
O biólogo especializado em conservação, Joe Roman, foi um dos pioneiros na ideia de trazes espécies invasores para nossa cozinha. Esse é um movimento que já tem inclusive um nome, invasorismo, prega a ideia de transformar plantas e animais invasores em comida.
Prato feito com o peixe-leão, espécie invasora./ Image: Phalinn Ooi/Flickr
Dessa maneira, isso pode reduzir o efeito destruidor que essas espécies possuem para a biodiversidade e ainda ajudar a movimentar a culinária local e alternativa.
Além do mais, estimativas apontam que nos últimos 100 anos, organismos invasores tenham causado mais de 1,3 trilhões de dólares em prejuízo ao redor do mundo. Porque muitas espécies desse tipo prejudicam plantações e impedem o crescimento de florestas, como é o caso dos javalis no Brasil, por exemplo.
Javali selvagem é um tipo de invasor./ Image: Paul Henri -Pixabay
Por isso que a comida é uma saída que não só cuida do meio ambiente como também do bolso de muita gente.
Churrasco de javali
Como já falamos, os javalis não só prejudicam as plantações, mas também são perigosos para os seres humanos.
Javalis são animais selvagens agressivos e podem causar sérios danos com suas presas e dentes afiados. Mas podem também se tornar prato de restaurante.
Prato feito com carne de javali./ Image: After the Hunt
Foi o que fez o chef de Los Angeles, Brandon Kida. Ele criou em seu restaurante, o Hinoki & The Bird, um prato feito de carne de javali, pimenta chinesa e molho de peixe que logo se tornou o carro-chefe do estabelecimento.
Ele conta que o sabor da carne de javali é semelhante ao da carne de porco, mas com menos gordura.
Ou seja, pode levar pro churrasco.
Caranguejo = salgadinho
Se a carne de javali não é pra você, que tal uma pipoquinha de caranguejo azul?
O caranguejo azul ou caranguejo asiático é uma espécie que invadiu os EUA e são bem resistentes. Ou seja, estão se reproduzindo rapidamente e causando uma dor de cabeça enorme. Mas esses invasores também são uma delícia para fazer snacks, petiscos e salgadinhos.
O salgadinho de caranguejo é comumente vendido nos países asiáticos./ Image: Asian Veggies
Você pode até fritá-los como pipoca. Basta aquecer um pouco de azeite em uma frigideira grande e submergir os caranguejos azuis até que fiquem com uma bela cor laranja brilhante.
O restaurante de sushi de New Haven, chamado Miya´s, faz exatamente isso. Eles servem a pipoca de caranguejo como um aperitivo delicioso.
Também pode comer planta? Pode!
Sabe as suculentas, aquelas plantas fofinhas que viraram xodó para decorar os ambientes?
Pois é, elas também são invasoras e comestíveis. A beldroega é uma espécie de suculenta que invadiu os ecossistemas da América do Norte e do Sul.
Suculenta invasora e comestível, pode ser usada em saladas./ Image: Shutterstock
Elas aparecem muitas vezes entre as pedras e rachaduras das calçadas. É abundante em quintais de todo o mundo e irrita muitos jardineiros.
Mas o que eles não percebem é que podem comer as beldroegas. Ela tem um sabor bem parecido com o da rúcula e é ótimo para adicionar nas saladas. Também é um alimento super rico em ômega-3 e beta-caroteno.
Vai um dente-de-leão aí?
Se você tem um quintal ou jardim provavelmente sofre com os dentes-de-leão, não é? Esse invasor está praticamente em todos os lugares e se espalham literalmente, com o vento.
Image: Maria Brzostowska
Felizmente, os dente-de-leão são alimento e podem ser comidos da raiz até a flor.
Dentes-de-leão são cheios de vitaminas, minerais e antioxidantes. Uma xícara de chá das folhas dessa plantinha oferece 112% da vitamina A que você precisa diariamente e 535% das suas necessidades de vitamina K.
Chá de dente-de-leão./ Image: Everything Pretty
Além disso, o chá de dente-de-leão também é usado na medicina homeopática para o tratamento de dores musculares, constipação, gases intestinais e dores nas articulações.
Bônus: invasor como matéria-prima para embalagens
A empresa Chemolex, no Quênia, foi rápida em perceber dois problemas de uma vez só: a quantidade de plástico no mundo e as invasões de espécies na natureza. Pensando nisso, ela está tentando matar dois problemas de uma cajadada só criando uma alternativa de bioplástico.
Essa alternativa se chama Biopactic e pretende substituir totalmente a utilização de plástico descartável para fabricação de fraldas e sacolas.
Sacola plástica feita de planta invasora./ Image: Chemolex
E como esse bioplástico é feito? Utilizando uma planta invasora chamada aguapé como matéria-prima.
Dessa forma, o benefício para a natureza é duplicado: remove os resíduos plásticos da natureza e remove um invasor dos lagos. E, por fim, o resultado é uma alternativa de plástico 100% biodegradável e reciclável.
Fazendo do limão uma limonada
Comer uma espécie que é um invasor é literalmente isso. Ou seja, é tirar proveito do que pode acabar se tornando um grande problema para o meio ambiente. É tirar o melhor da situação, isto é, enxergar o copo cheio. E se tiver cheio de algo feito com uma espécie invasora melhor ainda!
Sabia que existe um livro de receitas de espécies invasoras? É pra comer o invasor com status de chef!
Fontes: SpringWise.com, Natural History Museum, Saveur.com, TreeHugger.com, gizmodo.com, Green Global Travel, Revista Trip, SoCientifica, Globo.com, OutsideOnline, Mona
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