O futuro está no passado: o que podemos aprender sobre alimentos com os ancestrais

O futuro está no passado: o que podemos aprender sobre alimentos com os ancestrais

Pode até parecer que é um assunto novo nas rodas de conversa e agendas políticas ao redor do mundo, mas a preservação da natureza é uma preocupação que já vem dos nossos ancestrais.

Técnicas ancestrais de agricultura

Ilustração por: Alice Moynihan

O desperdício é um problema moderno

Hoje em dia, quando falamos em desperdício nos vem à cabeça os lixões a céu aberto, pilhas e mais pilhas de plástico e poluição ambiental, resultado do consumismo exagerado e pouca conscientização sobre o tema.

Lidar com o problema do lixo é uma questão urgente em nossa sociedade contemporânea, mas será que nossos ancestrais também precisavam se preocupar com isso? O que podemos aprender com quem esteve aqui antes de nós?

A ONU calcula que 1,3 bilhão de toneladas de alimento são desperdiçadas por ano no mundo todo, ou seja, 1/3 do que é produzido globalmente. E o pior não é isso, mas a produção desse alimento desperdiçado é responsável por 8% da emissão de gases de efeito estufa.

Alimentos desperdiçados no mundo ultrapassam 1 bilhão de toneladas por ano./ Image by: GettyImages

Só para você ter uma ideia, se o desperdício mundial de alimentos fosse concentrado em um só país, ele seria o 3º maior emissor de CO2 do mundo.

E no Brasil?

O Brasil também não fica para trás nos números alarmantes. Um estudo da Embrapa mostrou que uma família brasileira desperdiça, em média, 130kg de comida por ano. Isso, em escala nacional, dá um total de 26,3 milhões de toneladas todos os anos.

lixões eram inexistentes para os nossos ancestrais

Aterro sanitário a céu aberto./ Image by: GettyImages

Os astecas: uma sociedade com política de desperdício zero

Ancestrais astecas viveram na região do México

Sociedade asteca ficou conhecida pela zero desperdício./ Afresco por: Diego Rivera

Os astecas reaproveitavam os resíduos orgânicos nas chinampas. As chinampas eram as plantações agrícolas desses povos. A palavra chinampa significa “terra cercada de juncos” e esse tipo de plantio é muito comum em regiões alagadas, o cultivo se torna uma espécie de canteiro flutuante.

Chinampas modernas. Também são chamadas de “jardins flutuantes”./ Image by: Joaquín Enríquez por Pixabay

 

Ilustração de como seria o cultivo dos ancestrais astecas nas chinampas. /Image by: anthropogen.com

Outra prática muito comum entre os astecas era utilizar a urina como corante para tecidos. E tecidos não utilizados eram queimados para virar combustível para a iluminação pública.

Já pensou?

Pesquisas mostram que os astecas, já naquela época, possuíam funcionários responsáveis por manter a limpeza dos espaços públicos e catadores de materiais reutilizáveis. E mais, existiam penas severas para quem praticasse o desperdício, independente do status social da pessoa.

Os conhecimentos ancestrais continuam entre nós

Ainda existem comunidades que respeitam e propagam o exemplo dos nossos ancestrais de como preservar a natureza. Apesar de sua importância, os povos indígenas estão entre os grupos mais desfavorecidos e vulneráveis do mundo.

Image by: Glaiza Tabanao

As comunidades indígenas estão na vanguarda da conservação ambiental, de acordo com um relatório de 2021 apoiado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Muitos indígenas são especialistas em viver em ecossistemas frágeis e administrar uma biodiversidade limitada.

O exemplo da Jamaica

A Jamaica tem sofrido com fortes enchentes e chuvas intensas devido às mudanças climáticas. Isso causa um grande problema para a agricultura: a erosão do solo.

Para driblar esse problema, os jamaicanos apostaram na ideia de trazer para os dias atuais algumas técnicas ancestrais da região.

Técnicas de preservação aplicadas ao Rio Martha Brea, na Jamaica./ Image by: Donna-Kay Delahaye

Em outras palavras, as técnicas empregadas serviram para reter o solo superficial e manter o teor de nutrientes do solo. Os métodos de conservação incluem o uso de barreiras feitas com resíduos orgânicos ou barreiras vivas, como o cultivo de abacaxis, por exemplo. Este método de retenção também reduz a dependência de fertilizantes químicos.

As comunidades locais da Jamaica há muito são reservatórios de conhecimento indígena e cada dia mais vêm ganhando maior participação na resposta à mudança climática.

Em vez de pesticidas que tal patos?

A província de Heilongjiang, na China, sempre foi um lugar conhecido pelo seu inverno prolongado e era isso que mantinha as pragas longe das plantações de arroz da região. Porém, com o aquecimento global e as temperaturas mais altas, essa realidade mudou e as pragas vieram.

Heilongjiang é uma das províncias mais frias da China./ Image by: Felix Guan

Para resolver esse novo problemas os agricultores recorreram ao uso intensivo de pesticidas, o que matou as pragas, mas, por outro lado, também várias outras espécies da vida selvagem locais.

Foi preciso parar e pensar. E a solução estava em uma técnica usada pelos ancestrais chineses há mais de 600 anos atrás.

Patos usados na agricultura chinesa./ Image by: Pixabay

Assim, os agricultores foram incentivados a introduzir patos em plantações de arroz para se alimentarem das ervas daninhas e insetos. Isso fez com que os pesticidas não fossem mais necessários. Além disso, os excrementos dos animais agora viram fertilizante natural.

Uma longa tradição na reciclagem

Povos do ártico russo e da região subártica possuem uma tradição ancestral nas práticas de reutilização de resíduos.

Os Nenets são povos originários do ártico russo que possuem tradições ancestrais na preservação da natureza./ Image by: Tatyana Vonogradova

Essa tradição é evidenciada inclusive na linguagem dessas comunidades. A palavra “xampol°”, por exemplo, da língua falada pelo povo Nenet, é a mais próxima de resíduo que eles usam. E, na verdade, significa pó.

Ou seja, lixo não existe na língua dos Nenets. Nem na vida.

Reconhecimento e respeito pelos nossos ancestrais

Não podemos negar que às vezes (muitas vezes!) somos arrogantes. Por vermos os avanços tecnológicos, a evolução da ciência e da computação, achamos que somos autossuficientes e que não temos nada a aprender.

Mas, é importante sempre olhar por onde viemos e respeitar e aprender com nossos antepassados.

‘É a memória, especialmente a memória coletiva, o que nos vincula a um passado e a um futuro que transcende o nosso tempo individual, o que mais perto nos permite chegar a um sentimento de permanência e continuidade.’ – Atila Roque

povos ancestrais brasileiros

Foto: Reprodução

 

Fontes: Us.boell, Just Agriculture, Unep.org, Ancient Future Tech, University of Helsinki, ecycle, EcoMatcher, Ideas.Ted, Vox.com

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