Antes de mais nada, essa é a única certeza que temos: um dia iremos partir. Portanto, é importante tirarmos um tempo para pensarmos como iremos, concorda? Qual será nossa herança para o mundo?
E isso envolve pensarmos sobre em nosso funeral e optar, talvez, por um funeral ecológico. E por quê? Porque, surpreendentemente, morrer impacta o meio ambiente também.
Image: Sky News
Por isso, nesse Dia de Finados, vamos aproveitar o ensejo para esclarecer como podemos partir de forma mais sustentável.
O custo ambiental de morrer
Você até pode fazer tudo que estiver ao seu alcance para viver uma vida ecológica e consciente, mas o que pode estar passando batido em seu radar é que a morte também tem um impacto considerável ao meio ambiente.
É importante saber: os funerais tradicionais e os métodos principais de disposição final, ou seja, o sepultamento e a cremação, são os principais contribuintes para o nosso problema de emissões de carbono.
Além de ser custoso para o meio ambiente, funerais também são bem caros./ Infográfico: Sindicado dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep)
Porém, você pode estar se perguntando: a morte é um processo tão natural, então como pode ter um impacto tão negativo no meio ambiente?
Bom, isso acontece porque os cuidados modernos com a morte envolvem inúmeros processos químicos que neutralizam a decomposição natural e, consequentemente, são insustentáveis.
O sepultamento tradicional, por exemplo, envolve o embalsamento químico, além do uso da madeira dos caixões. Isso resulta em milhares de galões de formol e milhares de toneladas de madeira para a terra todos os anos.
E embora a cremação seja, muitas vezes, considerada uma escolha mais sustentável, ela também não é inocente. Para você entender melhor, a cremação de um único corpo libera, em média, cerca de 272kg de CO2 na atmosfera.
Funerais ecológicos: responsabilidade até na hora da morte
Um funeral tradicional envolve, normalmente, um caixão caro, muitas flores, um embalsamento e vários outros detalhes.
Image: Julie Zahn Photography
Já os rituais verdes requerem bem menos recursos para o cuidado do corpo e, por isso, são melhores para o meio ambiente. Além disso, também pode economizar os custos para os familiares.
Isso é muito atrativo para àqueles que se preocupam com sua pegada de carbono no mundo. Inclusive, um levantamento feito pelo The New York Times mostrou que 54% dos americanos consideram ter um funeral ecológico ao invés do tradicional.
Um funeral verde tem sido considerado como a melhor forma de partir./ Image: lhlic
Com certeza, você não deve estar planejando morrer, mas deve ter ficado curioso para saber o que é um funeral verde, não é?
Principais características
A grande diferença dos funerais ecológicos em comparação aos tradicionais são: não fazer o embalsamento, repensar os recipientes funerários e proteger o habitat natural. A mudança pode ser tão simples quanto envolver o falecido em uma manta de algodão antes de colocá-lo no chão e plantar flores e plantas na sepultura.
Image: Pia Interlandi
Aliás, a verdade é que essas ideias não são novas. As tradições funerárias de muitas religiões e povos originários seguem essa mesma linha. A ideia é devolver o corpo à terra, sem interferir nela ou prejudicá-la.
Inclusive, esse é um dos principais motivos das pessoas se atraírem pelos funerais ecológicos, a crença na ideia de retorno à natureza traz um certo conforto para os que ficam.
Empresas que já apostam nos funerais ecológicos
A Bios Urn, empresa de Barcelona, produz urnas biodegradáveis para pessoas e animais de estimação. Basta guardar as cinzas que resultam da cremação na urna, encaixar um sensor eletrônico, colocar uma semente no topo e enterrar a urna.
As urnas biodegradáveis são uma das opções para um funeral ecológico./ Image: BioUrn
As cinzas são o fertilizante para a árvore que nascerá. O sensor monitoriza as condições climáticas e o nível da água, indicando quando é preciso regar. Com o passar do tempo, a urna decompõe-se, deixando espaço para a árvore criar raízes e desenvolver-se.
A ideia desta urna biodegradável é transformar a morte de alguém numa lembrança que é também um legado para o planeta: converter o fim da vida num retorno à vida através da Natureza.
Enterros em árvores
A ideia dos enterros em árvores é permitir que a pessoa que faleceu seja enterrada em uma cápsula biodegradável. Essa, é enterrada no solo e uma árvore é plantada acima para criar um memorial.
Normalmente a cápsula é feita de bambu ou algodão.
Exemplo de cápsula funerária./ Image: Capsula Mundi
No Reino Unido, a principal empresa que explora esse conceito de cápsulas funerárias é o Capsula Mundi. O objetivo é imaginar uma abordagem diferente à forma como pensamos sobre a morte e proporcionar um lugar para a família e amigos continuarem a cuidar da vida, mesmo após a morte. Através das árvores.
À medida que mais enterros assim começarem a acontecer, os cemitérios vão adquirir uma nova aparência, transformando-se em bosques repletos de árvores. Ou seja, um lugar de verdadeiro descanso e retorno à natureza.
Mais tarde, as cápsulas se transformam em belas árvores./ Image: Capsula Mundi
Um funeral de cogumelos?
A ideia mais inovadora de um funeral ecológico talvez seja a da empresa de Nova Iorque chamada Infinity Burial.
A grande inovação dessa empresa foi criar um traje funerário feito de esporos de cogumelos, que foi chamado de COEIO.
Traje funerário da Coeio é feito de cogumelos./ Image: Death Care Industry
Trata-se de uma mortalha biodegradável feita de cogumelos que são projetados para ajudar a decompor o corpo e filtrar as toxinas dele, para que não contamine a vida vegetal e o solo depois que enterrado.
Ademais, ele é composto por uma mistura de dois tipos de cogumelo, um comestível, que é decompositor, e um micorrízico, que auxilia na transmissão dos nutrientes às raízes das plantas. Além disso, estas espécies foram escolhidas devido a sua capacidade de digestão de tecido humano morto e por serem nativas em muitos sítios do mundo.
Cogumelos usados na confecção do traje./ Image: Death Care Industry
Ainda que os cogumelos sejam acidentalmente ingeridos, não são tóxicos.
A primeira pessoa enterrada nesse traje foi Dennis White, um carpinteiro de 63 anos que estava com uma doença terminal e queria um funeral ecológico. Após sua morte, White foi sepultado como traje da COEIO em 2016. Desde então, várias pessoas, incluindo celebridades como o ator Luke Perry, tem procurado a empresa para planejar seu próprio funeral verde.
Planejar o seu futuro e o do planeta
O nosso destino todos sabemos e não podemos fazer nada para mudá-lo.
Agora o do meio ambiente podemos fazer nossa parte para ajudar a não criar danos que podem ser evitados.
Por fim, uma das formas de evitar esses danos, como mostramos nesse artigo, é pensar no seu funeral e optar por um ecológico.
Image: Green Burial Council
Dessa forma, através dos funerais ecológicos, é possível retornar à natureza em paz consigo e com o planeta. Concorda?
E então, vai pensar nisso enquanto há tempo ou vai deixar essa preocupação para os teus familiares?
Fontes: Noctula Channel, The Guardian, The New York Times, National Geographic, Business Insider, Unsustainable Magazine, How Stuff Works
PS: Artigo originalmente escrito em 10/03/2016 no site Noctula Channel, editado e publicado aqui em 02/11/2023.
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