Muito se fala sobre os problemas ambientais envolvendo a produção de mel ao redor do mundo. Especialistas apontam que, no futuro, esse alimento pode se tornar raro e até item de luxo. Mas e quanto às abelhas? Pois é, elas estão na lista de animais em risco de extinção. O fim das abelhas causará o fim, não só do mel, mas de pelo menos 70% da nossa comida.
Por isso, já dá pra entender a gravidade do problema, não é?
O desaparecimento silencioso das abelhas
O U.S. Fish and Wildlife Service (USFWS), órgão norte-americano incluiu 7 espécies de abelhas em risco de extinção. As espécies são todas dos EUA, o que não significa que o resto do mundo esteja em melhor situação. Todas as espécies de abelhas estão em apuros, desaparecendo silenciosamente.
Desequilíbrios ambientais, mudanças climáticas, uso de pesticidas cada vez mais potentes nas plantações, aumento das áreas urbanas, desmatamento, são todos fatores que contribuem para o fim das abelhas.
A situação é, de fato, preocupante. Inclusive, foi ninguém mais ninguém menos que Albert Einsten um dos primeiros da comunidade científica a afirmar que se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a humanidade teria apenas 4 anos de vida, isso porque as culturas alimentares perderiam seu polinizador.
Quase 9 de 10 plantas com flores dependem de vários animais para a polinização. A principal entre eles é a abelha melífera ocidental, espalhada mundialmente por conta da apicultura e sendo conhecida por ser o visitante polinizador mais trabalhadora da natureza.
Esses pequenos insetos voadores pretos e amarelos são responsáveis por 1/3 das nossas culturas alimentares, entre elas estão: árvores frutíferas, bagas, legumes e, até mesmo, a alfafa.
Ou seja, a importância delas para a natureza e, evidentemente, para a nossa alimentação é inquestionável. Mas por que elas estão desaparecendo?
Pesticidas e a ação humana são agravantes da situação
Em primeiro lugar, é importante informar que as causas variam entre pragas como o ácaro e, muitas vezes, estresse climático. Mas queremos falar aqui do principal vilão nessa história: os pesticidas.
Em 2007, na América do Norte, estourou uma pequena bomba: os apicultores da região haviam perdido entre 30 a 90% das suas colmeias. A razão: neonicotinóides e insecticidas neônicos. As abelhas sofreram um processo de infecção e, a maioria, não sobreviveu. O cenário é ainda pior quando levamos em conta que as colmeias possuem uma natureza permanente. Isto é, ao contrário das vespas, por exemplo, que morrem no outono e a rainha funda uma nova colônia para o próximo ano, as abelhas não costumam se mudar de suas residências.
Assim, quando problemas acontecem a tendência é que toda ou, pelo menos, boa parte da colmeia despareça para sempre. Por isso, alguns destes compostos que mencionamos acima foram proibidos na UE e em outros países.
Ainda podemos salvá-las?
Felizmente ainda há tempo para agir. Por exemplo, a Agência Nacional Australiana de Ciência está colando chips com tecnologia RFID nas costas das abelhas para entender o que está matando esses animais.
Já pesquisadores de Harvard criaram uma abelha-robô, com potencial para fazer polinização, vigilância e monitoramento climático.
Na Índia, por sua vez, a organização Under The Mango Tree treina pequenos agricultores a criarem abelhas para polinizar e assim aumentar o rendimento de suas plantações, além de incentivar a venda pro próprio mel como uma fonte de renda secundária para eles.
Outra alternativa é investir em planejamento urbano amigável às abelhas. A Phillips produziu um protótipo de apiário urbano próprio para criar abelhas em casa.
Por fim, é imprescindível tomar medidas de restrição quanto ao uso de pesticidas em plantações que precisam da polinização das abelhas e em áreas próximas a apiculturas. É importante também cuidas das abelhas em si, não só do ambiente, como fazendo o isolamento de colônias doentes e recolher dados que ajudem a melhorar reprodução e a monitorização da saúde das colmeias, bem como a procura de novos medicamentos contra infecções ou antídotos contra os efeitos dos pesticidas.
Vacina para COVID-19 e para proteger as abelhas
Como dissemos, há muitos cientistas e pesquisadores preocupados em encontrar formas de preservar esses animais tão importantes para nossa vida na Terra.
E, muitas vezes, o que serve para um, serve para o outro.
Ao analisar a vacina contra a COVID-19 da Pfizer, a empresa de biotecnologia Greenlight Biosciences, em Boston, percebeu que poderia usar a mesma tecnologia de tratamento de RNA para tratar o ácaro nas colmeias (o ácaro também é um grande agente de extinção das abelhas).
Em uma abelha adulta, o ácaro é um verdadeiro vírus e parasita. Eles se reproduzem pegando carona (literalmente) em uma abelha até chegar a colmeia. Depois, chegam até a célula de criação onde as abelhas alimentam suas crias com uma mistura de mel e pólen rico em proteína. E é aqui que o ácaro começa a trabalhar, depositando seus filhotes na célula e alimentando-se da larva da abelha em desenvolvimento. Os filhos do ácaro acasalam e, quando a abelha adulta nasce, ela está fraca porque teve seus nutrientes roubados e, além disso, está carregando uma família de ácaros consigo.
Quando isso acontece, acaba que os apicultores passam a criar abelhas e ácaros, até que, ao fim, os parasitas acabem tomando conta da colmeia inteira.
Por isso, os cientistas da Greenlight resolveram usar o RNA para anular uma proteína vital do sistema reprodutivo do ácaro, ou seja, basicamente ele se torna insignificante e inofensivo.
Alarme de segurança para as abelhas
Por fim, vamos falar de uma tecnologia que funciona quase como o alarme do nosso carro, mas para abelhas.
A ApisProtect é uma empresa da Irlanda que teve a ideia de criar um sensor para ajudar os apicultores a manterem as abelhas saudáveis e em segurança.
O sensor, que tem conexão à Internet, é instalado no teto da colmeia e capta uma série de dados, incluindo temperatura, umidade, movimento e som. Esses dados são enviados para a sede da empresa, onde são processados, analisados e enviados de volta para o apicultor que poderá tomar providências e decisões para preservar suas abelhas.
Tudo isso é em questão de minutos, usando a Inteligência Artificial para acelerar a análise.
A CEO da ApisProtect, Fiona Murphy, conta que a ideia por trás do sensor era ajudar os apicultores a aumentarem a quantidade de polinização e a produção de mel, ao mesmo tempo, que diminuíam as perdas nas colmeias.
É ou não uma boa ideia?
Mas e você, já sabia que as abelhas eram tão importantes para nossa alimentação?
Referências: NRDC, Time, CNN Business, New Food Economy, Munchies – Vice, Digital Trends, Wyss Institute – Harvard, The Food Rush, The Better India, The Dieline, Yahoo Notícias, Science ABC, Successful Farming
PS: Artigo originalmente escrito em 08/06/2017, editado e publicado em 04/04/2024.
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