Por que o sorvete que não derrete ainda é a promessa que nunca decola?

Por que o sorvete que não derrete ainda é a promessa que nunca decola?

Não é de hoje que a indústria de alimentos (e as universidades) tentam criar um sorvete que não derrete. Talvez seja a materialização de um sonho de criança, mas sempre que surge um produto desse, levanta desconfiança.

O último lançamento é uma criação chinesa, investigada depois da publicação de vídeos de consumidores tentando derreter e até queimar o produto. A curiosa iguaria da marca Zhong Xue Gao custa o equivalente a R$60,00 e ainda assim é um sucesso de vendas.

Por que esse sorvete não derrete?

O fabricante relata adicionar 0,032 gramas de carragena — um extrato de algas marinhas — nos potes de sorvete, chegando a 78 gramas em cada pote, o que está de acordo com regulamentações de saúde do país. Vale lembrar que a carragena é aplicada amplamente em sorvetes no Brasil para ajudar a manter a estabilidade do produto.

O sorvete chinês tem, além da carragena, creme de leite, polpa de coco, leite condensado e leite em pó, sua composição é 40% sólida. Como o vídeo queimando o sorvete impressiona, a população está exigindo explicações e o governo segue investigando, mas aparentemente, não há maiores problemas.

sorvete que não derrete

Zhong Xue Gao, tão caro que ficou conhecido com a “Hermès” dos sorvetes

Existem alternativas mais antigas que também não deslancharam

Esse não é o primeiro sorvete lançado comercialmente com a alegação de que “não derrete”, em 2017, pesquisadores da Universidade de Kanazawa, no Japão, descobriram que um polifenol extraído de morangos também é um bom estabilizante, tornando o sorvete mais difícil de derreter mesmo passando 3 horas fora do freezer.

sorvete que não derrete

Kanazawa Ice

No Reino Unido o estúdio Bompas & Parr também desenvolveu o seu. Criado para uma exibição sobre a história do sorvete, o produto continha fibras de frutas e começava a derreter em cerca de uma hora.
Mais cedo ainda, em 2015, cientistas das universidades de Edimburgo e Dundee descobriram um método de produção de uma proteína conhecida como BslA (que já ocorre naturalmente em alguns alimentos) que une ar, gorgura e água no sorvete, mantendo-o congelado com consistência por mais tempo, já falamos dessa descoberta nesse post aqui. Eles estimavam que o sorvete com o ingrediente estivesse disponível no mercado em 3 a 5 anos, o que não ocorreu até agora.
Nenhum desses realmente deslanchou no mercado, há fatores que pesam como preço e capacidade de produção em escala do ingrediente. Há também outra questão importante: podemos chamar um sorvete que não derrete de “sorvete”? Ou seria uma “bala de goma gelada”? Talvez um dos aspectos que tornem sorvetes tão gostosos seja justamente o fato de derreterem no calor da boca liberando todo o seu sabor e refrescando seu consumidor.
Diminuir a necessidade de congelamento de sorvetes seria excelente para a indústria, facilitaria a distribuição e armazenamento e reduziria perdas, especialmente num país tão quente como o Brasil. Porém, a pergunta mais importante aqui é: estamos em busca de uma solução para o consumidor ou para a indústria?

Fontes: South China Morning Post, Universa Uol, Dezeen, University of Dundee

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