Juicero: como a máquina de suco virou símbolo de inovação fracassada

Juicero: como a máquina de suco virou símbolo de inovação fracassada

Nem toda inovação tem sucesso. Mas algumas chamam tanto a atenção que se tornam símbolos de inovação fracassada. Juicero é um desses casos. Por que a máquina de sucos high tech falhou grandiosamente?

Como já falamos no artigo sobre o Museu do Fracasso na Suécia (clique aqui), inovação falhada existe aos montes, mas costumamos esconder o fracasso em vez de aprender com ele. Uma das startups mais promissoras do momento era a Juicero. Além de produzir uma máquina de sucos high tech com internet das coisas (IoT) e conexão wifi, ela entrega também os pacotes de suco para o cliente.

Juicero

Até aí tudo ia muito bem, a startup recebeu 120 milhões de dólares de investimento, até o Google patrocinou a empreitada. Por 400 dólares qualquer um poderia ter suco fresco em casa sem ir à feira, descascar frutas e lavar o processador.

Um dia duas jornalistas fizeram um vídeo mostrando que é possível obter exatamente o mesmo suco espremendo os pacotes com as mãos. A partir daí o fracasso veio aos saltos.

Por que a Juicero deu errado?

Para além do motivo óbvio, há outras razões que contribuíram para sua ruína. Vamos lá:

1- Passaram 3 anos construindo a máquina em segredo sem testar um MVP (produto mínimo viável, em português) com o consumidor.

2- Por que pagar 400 dólares, se um nutribullet (muito famoso entre o mesmo público-alvo do Juicero) custa apenas 39 e só é preciso lavar um copo após o uso?

3- O fundador tinha sonhos para sua empresa, chegou a compará-la a Tesla e Apple, mas não há indícios de que tenha feito qualquer pesquisa com o consumidor apesar de ter recebido 120 milhões em investimento. O sonho estava na cabeça dele, mas ele nunca confirmou se o cliente possuía essa necessidade.

4- O preço do pacote de suco é 5 dólares. Mesmo depois do investimento alto na máquina, há o custo recorrente do próprio suco. Cada pacote rende apenas 1 copo.

5- A máquina é incrivelmente complexa, o que torna seu custo altíssimo. Será que o cliente está disposto a pagar tanto a mais para que sua máquina de sucos leia QR codes remotamente e invalide pacotes com data de validade expirada?

Juicero desmontada

6- A empresa afirma ser a primeira a oferecer um espremedor de sucos de pressão a frio doméstico, mas isso não é verdade. Basta um rápida pesquisa no Google para ver inúmeras ofertas de máquinas concorrentes.

7- Os investidores financiaram a startup com milhões de dólares apenas pela promessa. A empresa não havia vendido uma única unidade do produto até então.

O Zero convida a imaginação, mas pequenos números convidam questões sobre se um grande número se materializará. (Eric Ries – A Startup Enxuta)

8- Todo a tecnologia da máquina é um “nice to have”, não um “must have”, ou seja, é bonito, mas não fundamental.

O sucesso não é a entrega de um recurso; O sucesso é aprender a resolver o problema do cliente.”(Eric Ries – A Startup Enxuta)

Para finalizar, ficamos com mais uma lição do livro “A Startup Enxuta”:

“Nós devemos aprender o que os clientes realmente querem, não o que eles dizem que querem ou o que pensamos que deveriam querer”.

PS: Você já leu A Startup Enxuta? Ele será um dos títulos que você encontra na Biblioteca de Inovação do Eat Innovation.

Referências: O Estado de São Paulo, Quartz, CB Insights, Business Insider, Bevnet, Gizmodo, Inc., Bolt Blog, New Product Success, Food Navigator, The Organic Kitchen

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