Você já viu algo assim no supermercado? Essa imagem nos faz pensar na real função da embalagem e questionar se é assim que vislumbramos as embalagens no futuro.
Essa imagem viralizou no antigo Twitter (hoje X) há alguns anos pela ideia absurda de embalar uma banana em plástico quando ela já tem sua embalagem feita pela própria natureza, ou seja, a casca.
Isso levantou um debate sobre o uso excessivo de plástico para armazenar os alimentos e a questão: como serão ou como devem ser as embalagens no futuro?
A resposta é: mais sustentáveis.
Faz tempo que o problema existe, mas há soluções em andamento
O acúmulo de lixo devido à produção de embalagens de uso único, principalmente as embalagens plásticas, eram um problema que, mais cedo ou mais tarde, precisaria de atenção.
Há muitas formas de tornar as embalagens mais sustentáveis. A mais óbvia delas, claro, é eliminar o plástico.
Nos EUA, uma pesquisa do Plant Based Products Council mostrou que 60% dos consumidores estão abertos a produtos e embalagens à base de plantas. Além disso, esse mercado tem um potencial estimado em 136 milhões de consumidores no país.
Ou seja, mais consumidores = mais lucro.
Por isso, as empresas estão explorando materiais vegetais de todos os tipos para suas embalagens. E é aqui que entram os resíduos, embalagens upcycled são promissoras porque reduzem o uso de matéria-prima virgem e diminuem emissões de carbono. E mais, insumos upcycled trazem novas características e funcionalidades com uma gama ampla de materiais que até então a indústria não explorava e jogava fora! É o equivalente a rasgar dinheiro, já imaginou quanto valor desperdiçamos durante todos esses anos?
Algumas das opções mais populares hoje
- Celulose: a celulose é uma substância orgânica que se encontra dentro das paredes celulares das plantas. Podemos extraí-la do algodão, por exemplo. E com a celulose podemos produzir sacos para biscoitos, arroz, feijão etc. A Nature Flex é um exemplo de empresa que tem trabalhado com essa opção.
- Cogumelos: o micélio de cogumelo é leve e fácil de moldar. O que é ideal para criar um material semelhante ao isopor. Já falamos das inúmeras oportunidades nessa área aqui.
- Resíduos agrícolas: o bagaço da cana produz uma celulose que é perfeita para impressão de jornais, livros, móveis e plásticos biodegradáveis. Outros resíduos agrícolas como palha de milho e de arroz também são insumos para recipientes em serviços de delivery de alimentos. Aqui vai uma empresa que produz embalagens upcycled para o foodservice e que vale a pena conhecer no Brasil: GrowPack
- Algas marinhas: em alguns países, as algas marinhas são mais acessíveis do que a cana-de-açúcar e são uma opção biodegradável para as embalagens no futuro. Uma companhia que trabalha com isso: Evoware.
Embalagens no futuro: um vislumbre
Ainda há muitas inovações que talvez demorem alguns anos para chegarem até nós, mas chegarão!
Plástico infinitamente reciclável
Nem sempre a solução é banir o plástico, torná-lo melhor é também uma forma de aproveitar algumas características que tornam esse material único.
O plástico, diferente de outros materiais, perde valor depois de reciclado, é o que chamamos de downcycling (que é o contrário de upcycling!).
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade do Estado do Colorado, nos EUA, usando “química reversível”, fizeram com que os polímeros do plástico fossem decompostos em sua estrutura de monômero original, permitindo que fossem reutilizados. Ao manter intactos os componentes fundamentais do plástico, as embalagens plásticas podem ter uma vida interminável. Em vez de quebrar a embalagem de plástico, os cientistas ativaram ligações covalentes “dormentes”, permitindo que os termofixos tradicionais fossem reciclados em monômeros.
Alimentos feitos de embalagens
Aqui é que se desafia tudo o que você pensava sobre alimentos e plástico. Imagine que se, ao invés de descartar a embalagem do produto após consumi-lo, nós pudéssemos comê-la também?
A Fooditive está atualmente desenvolvendo uma tecnologia de impressão 3D que pode produzir alimentos a partir de resíduos plásticos chamada BioPrint. Essa tecnologia está planejada para estar pronta para consumo na primeira missão de pousar humanos em Marte, que deve ser lançada no final de 2030 ou início de 2040.
Madeira pode substituir o vidro e o plástico
Sim, é o que os cientistas vêm chamando de madeira transparente. Através de um processo químico de remoção da lignina, componente da parede celular da madeira, a superfície porosa branca é então revestida com um polímero transparente que proporciona efeito translúcido ao material.
Ou seja, fica bem parecido com o plástico. Na Finlândia já existe uma marca especializada nessa tecnologia, a Woodly®: à base de madeira, neutro em carbono e reciclável.
Papel de folhas
Muitas vezes vemos o uso do papel como uma alternativa infinitamente melhor do que o plástico para as embalagens. Mas não é bem assim.
O papel é menos polêmico, porém não menos complicado para o meio ambiente. Para fazer o papel precisamos derrubar árvores, além disso, para ficar com sua cor branca característica é preciso fazer o processo com componentes químico como: hipoclorito, cloro, oxigênio, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio e ozônio.
Ou seja, a pegada de carbono não é pequena. Dessa forma, seria muito interessante um papel que fosse feito não com a árvore, mas com as folhas que caem dela, concorda?
Na Ucrânia, a Releaf Paper tem apostado nessa inovação e ganhado grande destaque. Feito exclusivamente folhas que a prefeitura recolhe na limpeza das ruas, o papel de folhas usa 15 vezes menos água do que a produção tradicional de papel e é upcycled, já que usa folhas que virariam resíduos pela prefeitura.
O futuro sempre chega
É claro que nem tudo são flores, existem desafios quando o assunto é embalagem. Cada produto requer embalagens com características distintas e não há um material único e perfeito que atenda a todos os critérios, portanto produtos diferentes vão necessitar de embalagens diferentes. Há ainda a questão regulatória, a legislação não está preparada ainda para esses novos materiais, o que dificulta a adoção das empresas. E claro, o entrave do preço é determinante, ainda precisamos evoluir as tecnologias para ganhr escala e conseguir preços mais competitivos.
Acreditamos que é tudo questão de tempo e empenho de empresas, universidades e governos e que as embalagens no futuro serão melhores e mais sustentáveis, cada uma brilhando no mercado com suas melhores características. E que um dia, talvez olhemos para trás e o estranho será lembrar da quantidade de plástico e desperdício que fazíamos por aqui.
O que você acha?
Fontes: Grist, Triple Pundit, Razões para Acreditar, Agência Brasil, Recicla Sampa, Household Innovation, FoodTechBiz, Tetra Park, BBC, Thomas Net
COMMENTS