Com certeza, perder um ente querido é sempre algo triste e doloroso e, após uma perda tão grande precisamos encontrar caminhos para continuar vivendo, mas sem esquecer os que se foram.
Talvez a melhor forma de fazer isso seja através de uma obra de cerâmica feita de cinzas humanas, será?
Foi essa a ideia que o fundador da Chronicle Cremation Designs, Justin Crowe, teve. Aguçou a curiosidade?
Nesse artigo, vamos te contar um pouco mais sobre como funciona essa nova forma de lembrar de quem partiu.
Cremação x sustentabilidade
Como já falamos em nosso post anterior, as formas tradicionais de funeral estão cada vez mais nocivas para o meio ambiente e isso inclui a cremação.
Apesar do processo de cremar o falecido seja mais sustentável do que o embalsamento e enterro tradicionais, ele também causa alguns problemas ambientais como:
- Grande gasto de energia: um estudo da Associação de Cremação Norte Americana mostrou que a cremação consome a mesma energia que uma viagem de carro de 500km;
- Poluição do ar: a cremação cria poluentes atmosféricos;
- Emissões de gases de efeito estufa;
Por isso, se torna importante que as cinzas provenientes da cremação possam tomar uma nova forma e significado.
Tanto para pessoa que perdeu aquele ente querido tanto para o meio ambiente.
Vasos, canecas e louças feitas de cinzas humanas
Em primeiro lugar, você quer tomar café da manhã em uma caneca muito especial, com uma conexão especial? Ou talvez você queira colocar sua sopa ou macarrão em uma tigela que também possui um significado importante.
Então, você pode porque artistas e artesãos têm buscado criar peças como a que mencionamos acima com a cinzas dos seus entes queridos.
Ainda que pareça macabro à primeira vista, a intenção é estimular a conversa sobre o que significa a morte e a lembrança. Enquanto alguns preferem enterrar suas pessoas e animais falecidos, outros optam pela cremação. Uns guardam as cinzas e outros as espalham, então por que não as transformar em belas peças?
A ideia de Justin Crowe
O fundador da primeira empresa a ter essa iniciativa, se inspirou para criar a Chronicle Cremation Designs após o seu avô falecer.
Ele conta que estava em casa quando o avô faleceu e, como a casa é um lugar de rotina e um ambiente familiar, vivenciar um evento emocional naquele espaço o ajudou a normalizar um pouco mais a morte.
Por isso, em vez de observar uma urna ou uma fotografia na estante, ele preferiu criar uma forma com que pudesse interagir diariamente com as memórias do seu avô.
E então Justin criou peças de cerâmica feitas com cinzas humanas.
As cerâmicas feitas de cinzas
Para criar a cerâmica, as cinzas são coletadas, depois moídas até formar um pó e adicionadas a mistura de esmalte que inclui argila e outro materiais. As cinzas do esmalte derretem para formar um brilho que é usado para revestir os itens. A cerâmica é aquecida num forno a mais de 1300°C.
Cada lote de esmalte produzido com as cinzas é suficiente para a confecção de até 25 peças como canecas e garrafas, pingentes ou o que o cliente desejar.
Atualmente, há uma gama de peças que podem ser feitas na Chronicle Cremation. Peças como: canecas, vasos, luminárias, tigelas, urnas, e até mesmo joias. Sendo a luminária a mais popular entre as escolhas.
Mais exemplos surgem
Outra empresa começou a trabalhar com essa ideia de manter seus entes queridos por perto no dia a dia.
Estou falando da Conscious Clay, uma startup australiana fundada pela ceramista Hayley Bangham.
O diferencial dessa vez é que cada peça é feita a mão. Colocada na roda, torneada com ferramentas manuais e depois esculpida sem o uso de máquinas de produção em massa.
As opções de peças oferecidas pela Conscious Clay são: vasos, floreiras, castiçais, pratos decorativos e as famílias podem escolher a cor principal da sua cerâmica.
As pessoas só morrem quando as esquecemos
É o que diz a escritora chilena Isabel Allende.
A verdade é que ideais inovadoras como as que contamos nesse artigo, permitem manter nossos entes queridos em nossa memória de forma viva e ativa.
O pensamento de Justin e Hayley, por exemplo, permite que se “possa tomar café todas as manhãs com as memórias da sua avó ou despertar histórias em jantares de família a partir de uma tigela na mesa”.
Por fim, não há certo ou errado na atitude de cada um diante do luto. Integrar as cinzas de alguém na cerâmica é uma maneira inovadora de recordar, criar uma espécie de “imortalidade”.
E você, como lida com o luto?
E o que acha dessa nova forma de lembrança dos que se foram? Deixe aqui o seu comentário.
Fontes: Daily Mail, Independent, The Guardian, Mashable, The Sunday Guardian
PS: Artigo originalmente escrito em 17/02/2017 na revista i9 Magazine, editado e publicado aqui em 28/05/2024.
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