Em 2021 uma notícia da Europa tirou o chão de muitas empresas na indústria de alimentos: o dióxido de titânio, um dos mais utilizados como corante branco em alimentos, seria proibido.
Desde então, empreendedores e cientistas do mundo todo têm tido dores de cabeça em busca de uma alternativa para uma coloração, até então, muito difícil de ser atingida sem o TiO2 (dióxido de titânio).
Até então, porque agora (rufem os tambores) o upcycling entra em cena como alternativa promissora.
Por que o TiO2 foi proibido?
Utilizado principalmente em pó, o dióxido de titânio era muito utilizado para dar a cor branca em alimentos, bebidas, fármacos e cosméticos.
Sorvetes, balas de goma, iogurtes, biscoitos e chicletes são exemplos de produtos que dependiam completamente do TiO2 para ganhar a cor branca.
Mas então por que proibir algo que tão importante para a indústria alimentícia?
À luz de novos estudos, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos determinou que os níveis de genotoxicidade do dióxido de titânio pode levar ao desenvolvimento de cânceres.
Mas e agora? Como substituir esse composto usado há mais de um século? A resposta pode estar no upcycling.
E no Brasil?
A proibição por enquanto é válida somente na Europa, nem os alimentos produzidos lá podem apresentar o TiO2, nem os que são importados de outros países. No Canadá e Estados Unidos, por exemplo, foi reiterado que o dióxido de titânio é seguro e que continuará sendo usado.
No Brasil, a ANVISA está monitorando o assunto junto a órgãos vigilantes do Mercosul, não concedeu mais aprovações de uso desse aditivo para novas categorias de alimentos, mas manteve as já existentes. Até o momento não publicaram nenhuma nova decisão sobre o assunto.
Corante branco upcycled feito com soro de leite
Recentemente foi publicado o resultado de um estudo na revista Nature, mostrando que o soro do leite ácido descartado da indústria de laticínios e grãos subutilizados de milheto dão origem a um corante branco upcycled, ou seja, feito a partir de resíduos que até então eram descartados ou usados como ração animal em um novo ingrediente de alto valor agregado na indústria de alimentos.
A solução seca é posteriormente encapsulada em farinha de milho, e se torna um branqueador de alimentos natural.
As descobertas desse estudo mostram que o pó branco de soro do leite upcycled contém um enorme leque de componentes com alto valor nutricional que podem ser incorporados nas mesmas aplicações industriais que o dióxido de titânio.
Um horizonte promissor
Não há dúvidas de que usar os resíduos da indústria de laticínios para fazer um novo ingrediente upcycled de alto valor agregado, natural e ambientalmente sustentável é uma ideia inovadora.
O estudo é promissor e os pesquisadores pretendem seguir com testes em escala piloto até determinar sua escalabilidade para atender a demanda da indústria que tem potencial também em diversas aplicações em cosméticos e fármacos.
É importante garantir que produtos e ingredientes que valorizem resíduos sejam destacados e transparentes com o consumidor, e exaltar a sustentabilidade da indústria alimentícia e seu valor no mercado.
Se tudo correr bem, é provável que nos próximos anos tenhamos no mercado um novo corante branco de alimentos e que ele seja upcycled. Além de atender uma demanda latente por corantes naturais, clean label e seguros, é também uma forma significativa de contribuir para produções mais sustentáveis e uma valiosa nova fonte de renda para a indústria láctea.
Referências: Food Connection, New Atlas, US Right Now, NCC Ingredients, Times of India, Artigo: A natural whitening alternative from upcycled food waste (acid whey) and underutilized grains (millet)
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