E se eu te dissesse que é possível comer um bolo feito com ovos e leite que não vieram nem da galinha, nem da vaca? Isso é completamente viável através da fermentação de precisão.
Parece coisa de filme de filme de ficção científica, mas não é. A fermentação de precisão vem de uma técnica antiga usada para preservar os alimentos e que agora, para muitos cientistas, pode ser a chave para um sistema alimentar mais sustentável no futuro.
Afinal, o que é?
A fermentação como conhecemos é o processo químico no qual os açúcares presentes nos alimentos são convertidos em ácido lático, gás carbônico ou álcool.
Já a fermentação de precisão é uma forma de fermentação que modifica microfibras, como levedura e bactérias, geneticamente para que elas se tornem “fábricas” de proteínas ou gorduras.
E por que o termo “precisão”?
A precisão vem justamente da capacidade de controlar o processo com precisão, desde a modificação genética dos microrganismos até a otimização das condições de fermentação.
Qual é a diferença entre a fermentação de precisão e fermentação comum?
A principal diferença entre a fermentação de precisão e a fermentação comum é que os microrganismos usados na fermentação de precisão são projetados para criar um produto específico, como leite com o exato sabor de leite, mas vindo do laboratório e não da vaca.
E a diferença entre fermentação de precisão e agricultura molecular?
Bom, pode parecer que é a mesma coisa, mas não é.
Vamos te explicar.
Na fermentação de precisão o DNA é inserido em uma bactéria ou microrganismo que depois são cultivados em biorreatores. Por fim, se faz a purificação para extrair o produto que se deseja, o leite, por exemplo.
Já na agricultura molecular o DNA é colocado em uma célula de plantas ou insetos que depois será cultivada da maneira agrícola tradicional. Isto é, em campos, estufas ou agricultura vertical.
Ficou mais claro?
Fermentação de precisão = sustentabilidade?
Para os pesquisadores da Organização das Nações Unidas, sim!
A fermentação de precisão é sim uma tecnologia alimentar sustentável, pois pode produzir compostos alimentares de alto valor proteico e nutricional, sem depender da agricultura tradicional ou da pecuária.
Isso reduz o impacto ambiental da produção de alimentos, pois requer menos água, além de dispensar uso de pesticidas e reduzir o gás metano emitido pelos bovinos.
Além disso, a fermentação de precisão também é usada para produzir produtos que são mais ecológicos do que os tradicionais, como alternativas à carne à base de plantas.
Quais são as vantagens?
Além das vantagens ambientais que mencionamos acima, essa tecnologia também pode levar à redução de custo dos alimentos que compramos no supermercado e a melhoria da qualidade do produto.
E não é só isso, a fermentação de precisão também está sendo usada para produzir novas terapias, incluindo fármacos e vacinas.
E as desvantagens?
A verdade é que existem algumas preocupações sobre a regulamentação da segurança dos produtos de fermentação de precisão. Em resumo, o que os cientistas pedem é que todos os países que comecem a utilizar essa tecnologia para produzir alimentos, desenvolvam também rigorosos regulamentos de controle de qualidade e segurança.
É o caso de Singapura, por exemplo, país em que já existe uma regulamentação segura e o leite feito de microfibra já está disponível nos supermercados.
Além disso, algumas pessoas se preocupam eticamente e socialmente com o uso de microrganismos geneticamente modificados para produzir alimentos que irão parar em nossa mesa.
Ademais, existem altos custos de energia e purificação necessários para que os alimentos feitos com a fermentação de precisão sejam seguros para consumo.
Segredo: você já deve estar consumido produtos feitos com a fermentação de precisão
O mercado dessa nova tecnologia está avaliado em 1,6 bilhão de dólares, com um crescimento anual de 48% ao ano.
Ou seja, é algo que tem despertado o interesse do mundo todo: consumidores e empresários.
E, mais do que isso, a fermentação de precisão já está entre nós há alguns anos. A insulina, por exemplo, é produzida através dessa técnica.
E não são apenas os derivados do leite os resultados da fermentação de precisão.
A Zero Acre é uma empresa norte-americana que usa a técnica para produzir o óleo de palma, que pode ser usado na cozinha (já falamos sobre essa e outras alternativas ao óleo de palma aqui). A fermentação aqui é feita usando cana-de-açúcar.
Aqui está uma visão geral de alimentos e suplementos comuns feitos com fermentação de precisão:
- Enzimas: a fermentação de precisão é usada para produzir todos os tipos de enzimas usadas na produção de alimentos, desde amilases para manter o pão macio e pectinases para tornar os sucos de frutas claros.
- Vitaminas: quase todas as vitaminas comuns que usamos para complementar nossa dieta (em forma de pílula), como vitaminas B e vitaminas A e C são feitas por meio de tecnologia de fermentação de precisão.
- Aromas naturais: são produzidos pela fermentação de precisão muitos aromas usados regularmente em alimentos, como o aroma de baunilha.
A inovação já chegou ao Brasil
Às vezes, ficamos sabendo de inovações como essa e achamos que vai demorar uma eternidade até vermos chegá-la em solo brasileiro.
Mas isso tá longe de ser verdade.
O fato é que esse mercado vem se tornando cada vez mais promissor no Brasil e empresas tem investido cada vez mais.
A Future Cow, por exemplo, é uma startup brasileira que pega o DNA da vaca, encontra os genes que produzem o leite, insere esses genes em uma levedura e, em seguida, leva tudo para o tanque de fermentação e pronto. Está feito o leite exatamente igual ao de vaca… mas sem a vaca.
O cofundador da Future Cow, Leonardo Vieira, afirma que já está produzindo cerca de 15 litros por fermentação. E o objetivo é conseguir aprovação da Anvisa para começar a produzir e vender em larga escala.
Outro exemplo é a UpDairy, uma binacional do Brasil-Cingapura que também produz leites e derivados através da fermentação de precisão. A empresa foca nos 4 menos: menos emissão de gases poluentes, menos uso de água para produção, menos uso de terras e menos crueldade animal.
Para fazer a fermentação de precisão a UpDairy utiliza fungos. Dessa maneira, eles copiam o gene da vaca nos fungos, os fungos crescem no reator enquanto produz proteínas lácteas.
E o resultado?
Proteínas do leite que podem ser usadas como ingrediente para fazer outros produtos como queijos, iogurtes e manteigas, por exemplo.
Novos horizontes
Então, conta pra gente: você está aberto a tomar um copo de leite de vaca que não veio de uma vaca?
Em síntese, soluções tecnológicas como a que explicamos nesse artigo, serão cada vez mais comuns. Isso pela busca de preservar o meio ambiente e melhorar o que comemos diariamente.
Qual seu lado nessa conversa?
Fontes: Globo.com, NeoFeed.com, Susupport.com, Forbes.com, GreenQueen.com, BrazilJournal.com, TheGuardian.com, VeganBusiness.com
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