Passado o Dia Internacional da Mulher a pergunta que fica é: como a indústria de alimentos pode se posicionar sem fazer papel ridículo?
Falemos em português claro, os esforços das marcas em aproveitar o Dia da Mulher para se promover são sofríveis.
Por que isso acontece?
Vou tomar aqui o meu lugar de fala como mulher e como parte integrante dessa indústria, além de consumidora desse produtos para uma breve análise do que foi visto nesse dia 8 de março.
Não custa relembrar, essa data não é de celebração, mas sim da reinvindicação de igualdade de direitos para as mulheres e assinalar que a igualdade ainda não foi alcançada (aproveite para baixar o e-book especial de Dia da Mulher e conheça algumas mulheres empreendedoras incríveis – aqui)
A marca de whisky Johnnie Walker lançou uma versão feminina do logotipo icônico, uma tentativa de atrair mais mulheres para apreciar o whisky mais vendido do mundo e reconhecer um impulso mais amplo para a igualdade de gênero.
Em vez do tradicional homem com chapéu alto – uma mulher, Jane Walker. A Diageo, empresa fabricante, também procura aumentar a representação feminina internamente. Seu conselho será 50% composto por mulheres ainda em abril desse ano.
Para cada garrafa produzida, a Diageo está doando um dólar para organizações que promovem mulheres.
A rede de fast-food norte americana KFC pela primeira vez apresentou uma mulher como Colonel Sanders. A cantora country Reba McEntire apareceu como coronel Sanders em sua mais recente campanha de marketing.
A Pepsico investiu na criação de uma linha de snacks, edição limitada, especialmente para a data. A Stacy Pita Chips pretende apoiar a mulher e celebrar o tema da igualdade de gênero. A empresa doará 25 mil dólares para a instituição de caridade Step Up, que apoia oportunidades educacionais para meninas em comunidades de baixa renda e mais 75 mil dólares para uma série de iniciativas femininas até o final de 2018.
É interessante notar que a própria escolha da marca para essa edição limitada não foi por acaso, a Stacy, que fundadora da marca que foi vendida para a Pepsico possui uma história inspiradora que você pode ler aqui.
Por fim chegamos no Mc Donalds, a gafe em dose dupla, no Brasil e nos Eua, mostra que mesmo uma empresa desse porte ainda precisa evoluir muito.
Nos Eua eles viraram o M e seu logotipo para formar um W em homenagem às mulheres (=women, em inglês).
No Brasil foi pior, colocaram apenas mulheres trabalhando nas lojas, o que deu a entender que no dia delas, quem teve o dia de folga do trabalho foram eles. A empresa ainda tentou se explicar, mas a emenda saiu pior que o soneto: em 20 lojas haviam apenas mulheres que foram remanejadas de suas lojas de origem para completar o quadro feminino enquanto nas outras lojas havia então apenas homens.
Mas afinal, o que as mulheres esperavam no Dia Internacional da Mulher?
Esperamos igualdade, esperamos não ganhar salários menores que nossos colegas homens na mesma posição, esperamos não sermos preteridas em uma promoção de cargo porque temos filhos.
As marcas podem se beneficiar da data para passar uma mensagem e ainda lucrar com isso (sim, a lógica capitalista impera aqui, mas sejamos realistas, empresas são empresas e sua existência é devida ao lucro), mas precisam ir além disso e garantir que fizeram a lição de casa, ou seja, que sua própria estrutura é favorável ao desenvolvimento das carreiras delas. Queremos ver mulheres em cargos de liderança, nos conselhos das empresas e na diretoria das agências de publicidade.
É uma surpresa agradável ver embalagens especiais e mudanças nos logotipos dos produtos, mas mais importante que isso é o fim da taxa rosa (não sabe o que é taxa rosa, leia aqui).
Queremos ver marcas que invistam na igualdade o ano inteiro. Se você leitor possui uma empresa, faça esse exame de consciência e em vez de distribuir rosas para suas funcionárias, distribua salários equiparados aos dos homens!
Referências: Bloomberg, Geek Publicitário, CNBC, Scotch Whisky, Foodbev, Veja SP, Exame
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