Em 2020, duas mulheres receberam o prêmio Nobel de química. E por qual motivo? As duas cientistas desenvolveram o CRISPR, uma ferramenta que consegue editar o DNA.
Editar, assim como editamos nossas fotos antes de postá-las no Instagram, com o CRISPR podemos editar o DNA de diversos microrganismos.
Nesse artigo você vai entender o que é essa tecnologia, como ela funciona, para que serve, como ela tem o potencial de modificar nossa alimentação e quais são as polêmicas que a cercam.
Lembrando que esse é o segundo de uma série de cinco posts. Veja aqui o de agricultura molecular, e não perca os próximos, sobre transgênicos, fermentação de precisão e alimentos cultivados.
Afinal, o que é CRISPR?
CRISPR é uma sigla para: Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas, mas você não precisa saber o que é esse amontoado de palavras complicadas.
O que você precisa saber é que CRISPR é que uma espécie de “tesoura genética” que permite aos cientistas mudarem parte do código genético de uma célula. Ou seja, com essa “tesoura” podemos, por exemplo, “cortar” uma parte especial do DNA, fazendo com que a célula produza ou não determinada proteína.
Assim, usando o CRISPR, cientistas podem modificar o DNA de animais, plantas e microrganismos com exatidão.
Pra quê serve?
Mesmo sendo uma técnica nova, o CRISPR já está sendo usado e testado de diferentes formas.
A principal delas é sua aplicação em plantas. Esse sistema traz a possibilidade de levar melhoramentos genéticos para as plantas, tornando-as capazes de resistir ao mofo, às pragas e ao estresse hídrico, por exemplo.
Outro exemplo que podemos dar é que, em laboratório, cientistas também estão editando genes de animais como o porco, para que ele desenvolva órgãos que possam ser transplantados para seres humanos sem rejeição.
Mas, vamos ao principal: o pão nosso de cada dia.
Como o CRISPR atua nos alimentos que consumimos?
A verdade é que alimentos modificados com o sistema CRISPR já chegaram ao prato de muitos. E, mais do que isso, está tornando alguns alimentos mais saudáveis, saborosos e mais atraentes para um número maior de consumidores.
Aqui vai um exemplo: Quantas vezes, quando éramos crianças, não nos recusamos a comer algum legume ou fruta porque ele não tinha uma boa aparência, ou cheiro ou, ainda, um sabor tão agradável?
Hoje em dia, o CRISPR viria ao nosso socorro, tornando esses alimentos mais “bonitos” e gostosos, reduzindo o sabor amargo de muitos vegetais e realçando o sabor das frutas.
Empresas já estão investindo nessa ideia. A Pairwise, companhia estadunidense, está atualmente trabalhando em variantes mais apetitosas de folhas verdes, cerejas e frutas vermelhas.
Mas não é só o sabor o foco. Tornar os alimentos ainda mais benéficos a nossa saúde também é um objetivo.
Em 2021, a startup japonesa Sanatech Seed começou a vender o primeiro alimento CRISPR a chegar ao mercado consumidor: tomates contendo grande quantidade de GABA, um composto produzido naturalmente em nossos cérebros e que é capaz de reduzir níveis de estresse e ansiedade.
Ou seja, ao invés de tomar suplementos, as pessoas no Japão podem aumentar sua ingestão de GABA simplesmente comendo tomates.
Qual a diferença entre CRISPR e os transgênicos convencionais?
Grande parte dessa resposta tem a ver com processo. Enquanto as técnicas tradicionais usadas em organismos geneticamente modificados usam vírus para caçar e substituir partes do DNA, a edição de genes CRISPR usa precisão para esculpir genes em uma escala minúscula. Em outras palavras, é como um ajuste em comparação com uma demolição.
CRISPR = polêmica?
Apesar do CRISPR ter sido aclamado por muitos como um grande avanço, para outros ele é uma grande preocupação.
Uma das polêmicas que cercam a ferramenta é que o CRISPR pode “cortar” a parte errada do genoma, ou fazer mudanças que não eram planejadas. Isso pode causar mutações e doenças genéticas.
Em 2015, um grupo de cientistas (incluindo uma das que viriam a criar o CRISPR) se uniu para pedir uma suspensão do uso da modificação genética em genes humanos.
Já em 2018, um pesquisador chinês usou o CRISPR para fazer uma edição genética em embriões humanos de modo a torná-los imunes ao HIV. Esse experimento foi completamente condenado pela comunidade científica, o cientista foi demitido da universidade e preso por três anos.
Assim, vemos que existem dois lados para a mesma moeda.
Futuro ou tendência?
Há quem diga que tecnologias como a do CRISPR ou da agricultura molecular não passam de tendências que, eventualmente, irão decrescer.
Mas o que vemos é o oposto: a cada dia que passa alimentos e plantas são modificadas utilizando essas técnicas, mostrando que num futuro próximo, provavelmente, farão parte da nossa rotina.
E você, o que acha?
Acompanhe nossos artigos para ficar por dentro das próximas postagens dessa série!
Fontes: G1.com, Iberdrola.com, CropLifeBrasil, Innovative Genomics, FreeThink.com, WeForum.org, FDLI.org, Genetic Literacy Project, PacMoore
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