Como os bancos de sementes afetam a comida que vai no seu prato hoje e no futuro

Como os bancos de sementes afetam a comida que vai no seu prato hoje e no futuro

O Cofre do Fim do Mundo, maior depósito de sementes do planeta, foi inundado. Bancos de sementes são nossos seguros para existirmos e nos alimentarmos no futuro. Como esse acidente afeta a inovação alimentar? O que podemos fazer para salvar nossa biodiversidade?

Bancos de Sementes são depósitos onde se preservam e guardam sementes congeladas para evitar que alguma cultura desapareça. Imagine uma “Arca de Noé das Sementes”, em caso de catástrofe, guerra ou extinção, estão ali as sementes que vamos plantar e recomeçar a vida. Em 2015 enviaram sementes para Aleppo, na Síria, que foi devastada pela guerra. Agora, com a crise climática, a tendência é que esses pedidos de retirada de sementes se tornem mais frequentes, pois culturas menos resilientes correm o risco de desaparecer.

Por exemplo, a Índia já possuiu 30 mil variedades de arroz e hoje só possui 10. É um risco à nossa saúde e reduz drasticamente as oportunidades de inovação em alimentos. A redução na produção agrícola também eleva os preços e agrava a insegurança alimentar. Quantos novos produtos poderíamos criar a partir das milhares de espécies que entram em extinção todos os anos?

Banco de Svalbard: o que era garantido pode estar ameaçado

Mas é preciso lembrar que, apesar de seguros, esses depósitos podem ser danificados. A crise climática provocou o derretimento das geleiras e inundou a entrada do Svalbard Global Seed Vault, também conhecimento como “cofre do fim do mundo”, o maior banco de sementes do planeta.

Com capacidade para armazenar 2,5 bilhões de sementes de 4,5 milhões de espécies diferentes de mais de 200 países, incluindo o Brasil.

O Svalbard está localizado onde havia uma antiga mina de carvão dentro de uma montanha permanentemente congelada na Noruega. Ele deveria ser seguro contra guerras, tsunamis, terremotos, incêndios e explosões. A inundação felizmente não atingiu a sala das sementes. Os administradores do banco já estão tornando os ambientes à prova d’água e instalando um sistema de escoamento para fora do túnel para que ele possa durar séculos.

Banco de sementes

Exterior do Svalbard Gobal Seed Vault

O Seed Vault é considerado a “apólice de seguro definitiva para a alimentação mundial”, garantindo a preservação de sementes para enfrentar os desafios futuros. Há mais de 1700 bancos de sementes no mundo e um acordo da ONU com 200 países signatários, previa armazenar 75% das espécies de plantas ameaçadas de extinção até o ano de 2020, mas o Brasil não cumpriu a meta.

Apesar disso, nem tudo está perdido, o Brasil possui mais de 260 bancos ativos de germoplasma no país, mais da metade pertencentes à Embrapa e com mais de 370 mil acessos conservados, o banco da Noruega é uma cópia de segurança do que também se guarda por aqui.

Banco de Sementes de Lisboa

Há ainda os bancos informais, em que pequenos agricultores trocam sementes entre si. Isto também é importante no cenário global, pois eles conseguem ser independentes das grandes empresas produtoras de sementes. 3 empresas possuem controle da metade das sementes do planeta. 60% da ingestão calórica humana atual vem de 4 espécies de planta: trigo, arroz, batata e milho. 

Para reverter isso, o Center for Food Safety (Centro para a Segurança Alimentar) criou o Global Seed Network, um “Tinder das Sementes”, aberto a todos que quiserem trocar as suas e contribuir para a diversidade alimentar.

Banco de sementes

Global Seed Network: o “Tinder das Sementes”

Na Califórnia há ainda a “Biblioteca das Sementes”. Agricultores da região doam e retiram o quanto precisam. Esta biblioteca salvou uma espécie de melão local, o Bidwell Casaba, que não é vendido em supermercados, mas é apreciado pela população.

Banco de sementes

Chico Seed Lending Library (CSLL): a “Biblioteca das Sementes”

O Brasil possui um banco de sementes curioso, o Maconha Seeds Bank, que pelo nome, você já deve imaginar que tipo de sementes ele guarda. 

Imagem: Maconha Seeds Bank (Facebook)

Aromas extintos também merecem ser preservados

Bancos de sementes, como o Global Seed Vault, preservam a diversidade genética das culturas. No entanto, a extinção de cheiros, que persistem apenas na memória, também pode ser uma preocupação.

E se o próximo cheiro a ser extinto for o da sua comida favorita? Ou daquele parque que você ama passear. Esses cheiros são mais do que simples aromas, eles integram experiências culturais afetivas.

O projeto “Extinto” do Boticário destaca a importância de preservar não apenas os recursos tangíveis, como sementes e plantas, mas também os intangíveis, como os cheiros.

Imagem: Ciclo Vivo

O Extinto utiliza o aroma de locais icônicos do mundo antes de serem poluídos para destacar a urgência de mudarmos nossos hábitos.

O projeto começou pela Baía de Guanabara, um dos pontos mais emblemáticos do Brasil. No entanto, quase 100 toneladas de rejeitos são despejadas ali diariamente.

Com a tecnologia Headspace, os perfumistas capturaram moléculas aromáticas do ambiente sem danificar a natureza, recriando em laboratório o perfume que remete ao cheiro original da natureza na Baía de Guanabara.

Imagem: Consumidor Moderno

A extinção de cheiros capturada pelo projeto do O’Boticário, é um lembrete da fragilidade do mundo natural.

Quer ajudar a garantir o futuro da alimentação? Promova a troca de sementes e consuma dos pequenos produtores. E não se esqueça de consumir integralmente os alimentos, cascas, talos e caroços são valiosos, não os desperdice. Quanto maior a diversidade, melhor será a nossa dieta no presente e no futuro!

PS: Artigo originalmente escrito em 30/05/2017, editado e publicado em 19/06/2024.

Referências: Munchies – Vice, Ministério da Agricultura Brasileira, G1, Hype Science, Exame, O Estado de São Paulo, The Guardian, Boston Review, CBN, TED x Innovations, Agronegócios, Science, The Verge, Rádio Notícias, O Boticário, Consumidor Moderno, Scielo, Super, Syngenta, Ecycle, Revista Cultivar

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